Desculpem por demorar para atualizar o Estação Meteorológica. Estou sem notebook e tenho usado um PC compartilhado. Dessa maneira, fica mais difícil postar. Prometo que vou melhorar a frequência.
Esse post será uma continuação do post anterior, em que falei sobre a seca de São Paulo (confira aqui). No post, eu tinha falado da situação das chuvas até setembro/2014. Como será que foi Outubro/2014? E como está sendo Novembro/2014, nesses 10 primeiros dias? Esse post responderá essas perguntas.
Outubro/2014 foi um mês seco. De acordo com dados da Estação Meteorológica do IAG-USP em seu último boletim mensal, Outubro/2014 foi o 4° mês mais seco desde 1933. Na figura abaixo, é possível ver as barras representando o total mensal de chuva de todos os meses de 2014 até outubro (que está destacado em vermelho). As linhas representam as normais climatológicas (médias de 30 anos) e a média total, de acordo com a legenda do gráfico. Essas linhas são referências, para sabermos se choveu acima ou abaixo da média. Dessa forma, o único mês que realmente choveu bastante (acima da média) em 2014 foi Março! A barrinha de Outubro/2014 fica bem abaixo das linhas.
Ou seja, as chuvas do mês de outubro/2014 não contribuíram para a recarga dos reservatórios. E se a gente levar em conta os primeiros dias do mês de Novembro/2014, apesar do fio de esperança com as chuvas dos últimos dias, o nível do reservatório não subiu! Pelo contrário: na sexta-feira (dia 7 de Novembro), nível do sistema era de 11,6%; no sábado (dia 8 de Novembro), índice estava em 11,5%. E olhando hoje (dia 10 de Novembro) estava em 11,3%. Esses números foram destaques em diversas notícias, como no site R7 (leia aqui).
O Sistema Cantareira está tão prejudicado pelo período prolongado de estiagem que não está se recuperando. As chuvas que caíram nos 10 primeiros dias de novembro totalizaram 32,3mm (a média é 129,9mm). Como ainda estamos no começo do mês, pode ser que Novembro/2014 feche bem próximo da média. As previsões estendidas para o mês de Novembro mostram que há probabilidade de chover bastante nos próximos dias (veja aqui).
E ainda há uma suposição interessante, feita por um geólogo em uma das apresentações de um workshop que participei. Esse geólogo afirmava que é possível que a parte de solo já seco das represas tenha se impermeabilizado um pouco por estar exposto a luz solar forte (tivemos muitos dias com poucas nuvens). Essa impermeabilização pode dificultar que a água subterrânea consiga recarregar o reservatório (parte da recarga vem de água que aflora no fundo do reservatório, água que foi absorvida pelo solo e desceu as encostas). Ou seja, além da falta de chuvas, podemos também ter este problema.
Muitos perguntam de onde vem esses números. São medidas oficiais, disponibilizadas no site da SABESP (veja aqui). Basta inserir a data e procurar o reservatório que deseja consultar, dentre todos os operados pela SABESP. Inclusive escrevi um post ensinando a usar essa informação dentro das salas de aula, para que dessa forma os professores possam abordar a questão da seca com seus alunos, facilitando o debate e multiplicando a conscientização (veja aqui).
Lembrando que as porcentagens do volume total do Sistema Cantareira mencionados anteriormente tratam-se já da água da segunda cota do volume morto. Falei sobre o volume morto nesse post. Há sérios problemas na utilização dessa área, pois ela pode inclusive estar contaminada de metais pesados.
Aposto que muitos dos leitores estão fazendo o possível para economizar água. Em Fevereiro/2014 inclusive dei algumas dicas sobre como economizar água (veja aqui). Eu sei que ficamos revoltados quando vemos vizinhos e colegas tratando o tema com descaso, lavando o quintal com mangueira ou permitindo que as crianças brinquem com água. Isso não pode nos desanimar. Sempre que possível, converse com as pessoas sobre economia de água. E repense suas escolhas nas próximas eleições, porque nesse ano os paulistas optaram por políticos que pouco fizeram para melhorar as infraestruturas de armazenamento e transporte de água.
Fonte da imagem destacada: essa reportagem da Folha.
P.S.: É importante lembrar que os dados do gráfico exposto nesse post tratam-se de dados da Estação Meteorológica do IAG-USP, localizado na Zona Sul de São Paulo (em frente ao Zoológico de São Paulo). Dessa maneira, certamente são diferentes de dados de precipitação de um posto pluviométrico ou estação meteorológica localizado em outros pontos da cidade. A chuva pode ser um fenômeno bem localizado, principalmente quando trata-se de pancadas fortes de chuva.