Esse vai ser um post bem pessimista.
Não vou alimentar as esperanças de ninguém: infelizmente, até Setembro pelo menos, não chove o suficiente para abastecer o Sistema Cantareira. Primeiro é preciso entender quando chove aqui na Região Sudeste. E para isso, vou mostrar um climograma, que é um gráfico que apresenta a temperatura média mensal e a precipitação média mensal, usando dados de uma ou mais estações meteorológicas.
O climograma abaixo que apresento para vocês foi feito com dados observados da Estação Meteorológica do IAG-USP (veja aqui). São dados médios mensais de temperatura e precipitação (chuva). As médias foram calculadas desde 1933, quando essas variáveis começaram a ser observadas:

Climograma, gráfico que indica a temperatura média mensal e a precipitação média mensal usando dados observados na Estação Meteorológica do IAG-USP.
O que esse gráfico nos permite ver em termos de precipitação (chuva, as barras azuis)? Bom, em primeiro lugar a gente vê que o clima da cidade de São Paulo (e dos arredores da cidade) é caracterizado por uma estação chuvosa bem marcada. As barras começam a diminuir drasticamente em Abril, atingem um mínimo em Agosto e voltam a subir em Setembro.
Ou seja, apesar de ter chovido um pouquinho nos últimos dias, por influência de uma frente fria, a chuva não faz nem cócegas no problema, pois não são esperadas grandes quantidades de chuva entre Maio e Agosto.
No momento, as pessoas estão falando apenas em futebol. O problema da falta d’água e as eleições de 2014 são assuntos sérios que está sendo ignorados. Outro dia uma jornalista conhecida minha comentava no Twitter que ela precisava de material sobre o racionamento de água para escrever uma matéria e ela só conseguia encontrar material sobre futebol. O assunto foi esquecido no último mês.
Ninguém mais fala no volume morto e parece que pararam de questionar a qualidade desse reservatório, cuja água nunca antes havia sido usada para abastecer a população. Não vejo as pessoas se engajando para economizar água. Vejo muito descaso e falta de conscientização por aí, com pessoas lavando o quintal todos os dias. Também é preciso lembrar que boa parte da água é desperdiçada antes de chegar até o consumidor final, com tubulações inadequadas e falta de investimento em modernização..Além disso, um sério debate sobre a priorização do consumo da água precisa ser travado. A água precisa em primeiro lugar ser usada para consumo humano.
Além disso, precisamos lembrar que o Sistema Cantareira tem apenas 25% de chances de se recuperar no próximo verão, que é quando começam as chuvas pra valer (veja no gráfico acima). Segundo informações da Estação Meteorológica do IAG-USP, em seu boletim sobre o último verão, o trimestre DJF2013/2014 teve um total de 352,5mm de chuva, valor abaixo da média climatológica (634,8mm). Em outras palavras, choveu apenas 55,5% do esperado. Foi o 2° verão mais seco da série histórica, sendo superado apenas por DJF1940/1941, o qual acumulou apenas 345,7mm. Outro destaque de DJF 2013/2014 foi a ocorrência de temperaturas bastante elevadas e pouca nebulosidade, o que fez aumentar a evaporação no reservatório.
Mas não basta culpar a natureza. O último verão foi bem seco, muito provavelmente por influência do próprio homem que alterou o clima com grandes emissões de gases de efeito estufa. O IPCC tem alertado sobre o problema da segurança hídrica como uma das consequências das mudanças climáticas. Os governos precisam investir em mitigação, para garantir que a população tenha uma vida digna diante desse novo cenário. E é aqui que o assunto eleições e falta d’água se unem. Observe a agenda dos candidatos e escolha aqueles que querem garantir que a população tenha acesso a água. Cobre, exija e faça pressão. É o que todos nós precisamos fazer nesse momento. E claro, cada um pode fazer a sua parte: aqui há algumas dicas simples, que podem ser incorporadas no dia a dia, para economizar água.